Sentimento de culpa: o que é e como lidar?

A culpa é uma das piores dores que uma pessoa pode sentir porque ela aflige uma parte do nosso corpo em que nenhum remédio pode alcançar: a nossa própria consciência. Por isso, para aprender a lidar com esse sentimento é necessário um longo processo de autoavaliação.

As consequências de não se lidar com o sentimento de culpa podem chegar a níveis gravíssimos, pois a incapacidade de conseguir o perdão, seja daqueles que você de alguma forma feriu e também de si mesmo, pode levar a um quadro de depressão e também de autodestruição.

Nesse artigo iremos discutir o que é e como surge esse sentimento de culpa e trazer algumas sugestões de como lidar com ele. Contudo, vale sempre destacar que o ideal é que você busque um profissional capacitado para te auxiliar nesse processo.

O que é o sentimento de culpa?

A culpa é um sentimento, logo ele possui uma natureza complexa e abstrata. Porém, para os fins deste artigo é necessário ter uma definição clara e, por isso, iremos considerar que a culpa é um arrependimento por uma ofensa real ou imaginária que se faz a alguém, ou a si mesmo. E ela se manifesta em graus diferentes dependendo do contexto da ação.

Por exemplo, uma pessoa pode sentir uma culpa leve por comer um doce durante uma dieta e que geralmente passa dentro de umas horas. Por outro lado, uma pessoa pode sentir uma culpa moderada por falar rispidamente com um familiar ou colega de trabalho, imaginando que as palavras tenham os ofendido.

Por fim, também podemos sentir uma culpa grave quando algum descuido nosso causar algum dano físico, financeiro ou moral a outra pessoa. Um motorista que se distrai no trânsito, causando um acidente que leva a hospitalização de outro motorista ou pedestre com toda certeza carregará esse arrependimento por meses ou até anos.

Logo, a culpa é como um peso que você carrega por onde vai e caso você a ignore ou não aprenda a lidar com ela, só tende a crescer até um ponto que você não consiga suportá-la.

RESPONSABILIDADE ou SENTIMENTO DE CULPA

Agora que já definimos o que é culpa, é interessante também comentar sobre outro sentimento que algumas vezes se confunde que é a noção de responsabilidade.

Talvez a melhor forma de estabelecer essa diferença seja através de um exemplo. Imagine que você está na casa de uma pessoa e, por descuido, esbarra num vaso que se quebra. Imediatamente você pede desculpa e promete ressarcir o valor do objeto ou comprar um novo. Então, você acha que essa ação é motivada por culpa ou responsabilidade?

Obviamente é um caso de responsabilidade, afinal você está reconhecendo imediatamente uma falha sua e tomando a atitude para resolver. Logo, a responsabilidade pode ser considerada uma maneira mais honesta de encarar um erro seu, contudo, sem internalizar um arrependimento que te permite agir tranquilamente para ajeitar a situação.

De certa forma, podemos dizer que a responsabilidade é uma espécie de culpa positiva que, coincidentemente, é o tema do nosso próximo tópico.

Culpa positiva e culpa negativa

É um pouco estranho observar dividir a culpa num campo positivo e outro negativo porque, no geral, ela é tida como sentimento ruim. Ninguém gosta de se sentir culpado por algo, afinal isso implica que houve uma consequência negativa para alguém ou para si mesmo.

Então, nesse contexto, podemos entender a culpa positiva como aquela que promove uma transformação benéfica na vida do indivíduo. Ou seja, ela causa um aprimoramento seja por tornar a pessoa mais tolerante, mais educada, mais consciente dos sentimentos alheios e que tem mais consideração pelo bem-estar das pessoas ao seu redor.

Por outro lado, podemos interpretar a culpa negativa como a culpa em excesso. É um ponto em que nem mesmo o indivíduo consegue se perdoar por aquilo que disse ou que fez. Se não tratada, a culpa negativa pode levar a quadros graves de transtornos físicos e mentais.

Sabe-se que a culpa pode acarretar até mesmo sintomas psicossomáticos, problemas físicos oriundos de algum sofrimento emocional, como alterações no sistema digestivo e cardiorrespiratório, alergias de pele, fadiga, dores crônicas em diferentes partes do corpo, entre muitos outros sintomas.

Sintomas e sinais desse sentimento

  • Angústia constante;
  • Mau humor contínuo;
  • Alta frequência de pensamentos autodepreciativos e atitudes compulsivas;
  • Surgimento de comportamentos autodestrutivos;
  • Problemas persistentes na hora de dormir como insônia, pavor noturno e/ou pesadelos;
  • Autossabotagem e também sentimento prevalente de não merecimento;
  • Remorso constante acompanhado de diálogos internos de autoacusação.

Como lidar com o sentimento de culpa?

Aprender a lidar com a culpa não é uma tarefa fácil, porém existem pequenos passos que você pode tomar que ajudam no processo. Destacamos que cada caso é um caso, mas no geral, essas sete atitudes tem grandes chances de se aplicar ao seu:

1. Reconheça a culpa

A culpa tem uma similaridade com o luto: se você não aceitar que ela existe tende só a piorar. Por mais que seja doloroso admitir para si que ofendemos ou prejudicamos alguém, reconhecer seus erros é o primeiro passo sempre para a cura.

2. Compreenda a origem da culpa

Reconhecer seu erro é só a primeira parte, você também precisa entender exatamente onde e como errou. Ao entender a origem da culpa você pode se preparar melhor para os passos seguintes.

3. Peça desculpas, se necessário

Na maior parte das vezes a culpa provém de uma ofensa ou dano que causamos a outras pessoas. Se esse for o seu caso, pedir perdão é o que trará mais resultados no processo de tirar esse peso da culpa sobre as suas costas. Mesmo que a pessoa não te perdoe, a demonstração de arrependimento é fundamental.

4. Não seja muito duro consigo mesmo

O sentimento da culpa geralmente é alimentado por nós mesmo, logo é necessário entender que erros são uma parte natural da vida e todos cometemos em algum momento. Não significa ignorar as consequências de suas ações, mas sim não se criticar além do necessário.

5. Pratique o autocuidado

É normal que durante episódios em que a culpa preenche nosso interior, uma angústia e tristeza tomem conta do nosso corpo. Durante esse período você precisa ser vigilante e se cuidar para que não se torne um problema mais grave.

6. Perdoe-se

O processo de cura da culpa requer o perdão do próximo e também de nós mesmos. Inclusive boa parte dos casos em que esse sentimento se agrava é porque o próprio indivíduo não consegue perdoar. Ao que nos leva ao último passo.

7. Procure ajuda psicológica

Não é exagero dizer que a culpa pode ser fatal. Ela leva a quadros de depressão profunda e cria hábitos autodestrutivos. Portanto, nunca hesite em buscar ajuda de profissionais quando sentir que esse sentimento ficou grande demais para você lidar sozinho.

Sinto culpa por tudo, e agora?

A culpa generalizada é outra variação preocupante de quando alguém está passando por um período profundo de arrependimentos. Nessa condição a pessoa passa a se culpar até mesmo por ações que ela não cometeu ou coisas que fogem do seu controle.

É importante estar atento a essa condição porque, como temos destacado nesse texto, a culpa nos leva a hábitos de autodestruição. Logo uma pessoa que sente culpa por tudo passa a pensar ainda menos de si mesmo, acreditando que ela é a razão pela mazela da vida de todas as outras pessoas.

Nessa situação é imprescindível a ajuda de um psicólogo, pois dificilmente alguém conseguirá superar uma culpa generalizada sozinho. O apoio de familiares e amigos também é fundamental para mostrar ao indivíduo que não tem que flagelar por cada resultado negativo da vida.

Por que nos autocobramos tanto?

Quem disse que nós somos nossos piores inimigos não estava exagerando. Obviamente que devemos sempre tentar nos aprimorar ao máximo para atingir a melhor versão de nós mesmos. Contudo, quando essa autocobrança se torna excessiva o seu efeito é o exato oposto.

Uma pessoa que cobra muito de si mesmo em vez de se motivar, tende a ficar num círculo vicioso. Por nunca se sentir que é boa o suficiente, ou que está fazendo as coisas do jeito certo, ela nunca consegue avançar e fica remoendo os mesmos ressentimentos e cometendo os mesmos erros em sequência.

Existem quatro sinais bem claros para se identificar quando a autocobrança já não está trazendo benefícios a você ou então um conhecido que vem passando pelo mesmo problema:

Perfeccionismo

É normal querer que algo saia do melhor jeito possível. Porém, as pessoas que se cobram demais buscam um nível de excelência inalcançável, tornando-as incapazes de lidar com qualquer erro por menor que seja e levando uma vida cheia de frustrações.

Estresse e ansiedade

A autocobrança excessiva também leva a níveis muito elevados de estresse e ansiedade porque a pessoa nunca está satisfeita por si. Nada que ela faz parece suficiente e assim só estimula a estabelecer expectativas maiores que vão acabar levando a mais decepções consigo. É o círculo vicioso que mencionamos anteriormente.

Baixa autoestima

Com base nos itens anteriores é fácil adivinhar que quem tem um nível tão grande de cobrança consigo mesmo acaba desenvolvendo, com muita frequência, uma baixa autoestima exatamente por criar padrões inatingíveis para sua vida.

Medo de fracassar

A última consequência da autocobrança excessiva é quando a pessoa simplesmente desiste de tentar. O seu padrão chega a um nível tão elevado que o medo de fracassar a torna estática e a partir daí que ela passa a se culpar por tudo que tem acontecido na sua vida.

Quando se torna preocupante e se deve procurar ajuda?

Anteriormente no texto falamos como a culpa pode ter uma qualidade benéfica na nossa vida quando ela nos ajuda a nos tornar pessoas melhores e mais honestas com nossas ações e sentimentos. Quando a culpa é controlável não há motivos para se preocupar.

O ponto de virada é quando o sentimento de culpa passa a ser persistente no seu dia e você já não consegue se concentrar em tarefas, comer ou dormir direito e, em casos mais graves, apresentar os sintomas psicossomáticos que citamos mais acima. A incapacidade de se perdoar é o principal sinal para indicar que o indivíduo se encontra num nível perigoso de culpa.

O ideal é procurar um psicólogo antes de entrar nesse estado, porém é muito difícil antecipar quando a culpa sai do campo positivo e entra para o negativo. Logo, as pessoas geralmente procuram o profissional adequado quando os principais sintomas já se manifestaram.

Mas, não entre em pânico, há sempre tempo para se pedir ajuda. O importante é pedi-la. Novamente, ter um grupo de apoio com seus familiares e amigos é essencial porque por vezes a pessoa já está tão afundada na culpa que ela não consegue perceber os malefícios que vem trazendo para sua vida.

Perguntas frequentes:

O que fazer para tirar o sentimento de culpa?

Para tirar o sentimento de culpa primeiro você tem que identificar a sua origem e depois reconhecer que todo mundo erra. Peça desculpas sinceras pelas suas falhas e tente não deixar que a tristeza te consuma. Em casos mais graves, busque ajuda psicológica.

O que causa o sentimento de culpa?

O que causa o sentimento de culpa, geralmente, é uma avaliação tanto interna quanto externa que nos leva a reprovar alguma ação que tomamos em relação a uma pessoa ou até a nós mesmos.

O que a psicologia fala sobre sentimento de culpa?

A psicologia fala sobre o sentimento de culpa é um sentimento social. Ou seja, em geral, ela se manifesta como uma forma de autocrítica consequentemente a algo que fizemos contra nós mesmos ou outra pessoa.

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